Em 2012 foi criada a Comissão Camponesa da Verdade (CCV), um dos frutos
do Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas
e das Florestas. Este evento reuniu, em Brasília, em 2012, milhares de camponeses de
mais de quarenta organizações e movimentos ligados à luta pela terra e por territórios,
em memória ao 1º Congresso Camponês, realizado em 1961, em Belo Horizonte.
Além de celebrar os mais de cinquenta anos do congresso de Belo Horizonte, o
Encontro Unitário articulou a diversidade das organizações do campo na construção de
alternativas políticas, econômicas e sociais ao agronegócio para o campo brasileiro.
Alternativas e bandeiras baseadas na defesa da reforma agrária, no respeito ao meio
ambiente, na produção de alimentos saudáveis e na soberania alimentar, na defesa dos
direitos territoriais, na geração de renda e na melhoria da qualidade de vida no meio
rural, entre outras bandeiras e lutas.
O conteúdo deste relatório é a materialização de um primeiro passo, cumprindo
o compromisso firmado no Encontro Unitário, conforme consta da declaração final
(item 11), de “lutar pelo reconhecimento da responsabilidade do Estado sobre a morte e
desaparecimento forçado de camponeses, bem como os direitos de reparação aos seus
familiares, com a criação de uma comissão camponesa pela anistia, memória, verdade e
justiça para incidir nos trabalhos da Comissão [Nacional da Verdade], visando à
inclusão de todos afetados pela repressão”.
O resgate das violações de direitos de tantas pessoas do campo, no entanto, não
tem como objetivo apenas fazer constar nos anais da história oficial brasileira. A
memória – além de resgatar a verdade sobre o protagonismo camponês na resistência à
ditadura e seu braço privado, o latifúndio – tem como objetivo lutar contra o
esquecimento e construir caminhos para a Justiça e reparação. Essa luta pela verdade e
responsabilização do Estado é fundamental. Será seguida pela reivindicação de
reparação, pois só assim se poderá diminuir a realidade – pretérita e atual – de
impunidade que marca o campo brasileiro.
Reivindicamos o direito à reparação moral e material para os camponeses, seus
familiares, comunidades e entidades representativas, atingidos pela repressão policial e
militar e pelo braço armado do latifúndio, buscando universalizar o acesso aos direitos 13
da Justiça de Transição. Só assim será possível implementar a transição para a
democracia no campo.
É também nosso compromisso político preservar a memória de cada
companheiro e companheira, nominado ou não neste texto, que sofreu graves violações
de seus direitos depois de 1946, mas especialmente durante a ditadura civil-militar
(1964-1984), para que seu exemplo sirva de estímulo às novas gerações na luta em
defesa e na conquista de direitos.
Brasília, dezembro de 2014.
CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
CPT – Comissão Pastoral da Terra
FETRAF – Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar
MMC – Movimento das Mulheres Camponesas
MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores
MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
Relatoria do Direito Humano à Terra, Território e Alimentação da Plataforma DHESCA
RENAP – Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares
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