quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Empresa de autopeças anuncia fechamento de unidade e promete demitir 500 trabalhadores

                                                                
cspconlutas

Na manhã da última quinta-feira (07/08) os trabalhadores da PKC, o sindicato e a população de Itajubá foram pegos de surpresa com a trágica notícia de que a unidade da PKC Group em Itajubá fecharia suas portas e que funcionará até dezembro de 2014. Esta decisão foi comunicada ao sindicato e depois aos trabalhadores. A direção da empresa se utiliza dos argumentos de dívidas, falta de clientes e perda de mercado.

O grupo Finlandês PKC GROUP conta com unidades na Finlândia, China, Estônia, Irlanda, Alemanha, Polônia, Rússia, Ucrânia, no Brasil, México e nos Estados Unidos, e se especializou em fabricação de chicotes elétricos para veículos maiores, como tratores, caminhões e maquinas agrícola.

A PKC entregou projetos antigos e apostou na fabricação de chicotes elétricos para veículos maiores!

Os acionistas da PKC Group adquiriram a unidade da AEES (antiga AFL), em Itajubá, no ano de 2009 com aproximadamente 950 funcionários, a promessa de avançar nos investimentos e gerar empregos de forma imediata.

Mas não foi isso o que aconteceu, e a PKC assumiu que vinha desligando trabalhadores e demitiu em massa cerca de 200 trabalhadores no início deste ano de uma só vez, alegando perda de um projeto de fabricação de chicotes do Ford-K da montadora Ford, que agora seria fabricada pela empresa Yasaki.

O Sindicato dos Metalúrgicos achou muito estranho que uma empresa do porte e tamanho da PKC perde um projeto de produção que há 10 anos estava nas mãos da unidade Itajubá sendo AESS, por isso o sindicato denunciou que as demissões respondiam a outra necessidade: a reestruturação produtiva.

Ocorre que é publica a tradição da PKC a nível mundial e que se reserva na produção de chicotes para baixo volume, veículos grandes como caminhões e máquinas agrícola. Para isso, necessita de menos trabalhadores na linha de produção para executá-los.

Assim sendo, o fato de adquirir a empresa AEES (que tinha em suas mãos processos de produção de alto volume e veículos menores como o Ford K) nos revela duas situações: ou a empresa PKC mergulhava na fabricação de alto volume e de um portfólio diferente de sua tradição européia e de sua unidade em Curitiba, ou reestruturava, demitindo trabalhadores para garantir sua tradição de produção para baixo volume. Ela escolheu a última opção.

Foi o que aconteceu, a empresa demitiu 200 trabalhadores de forma arbitrária, sem procurar o sindicato, com o objetivo de preparar a empresa para a fabricação de um novo produto, que lhe daria mais lucratividade com um número menor de trabalhadores na linha de produção.

Portanto, a necessidade imperiosa da empresa de fazer com que a planta de Itajubá pudesse conceder mais lucros para a seus acionistas na forma de produzir outro tipo de mercadoria, que lhe desse mais lucros, deixou claro o motor que gerou o anúncio deste fechamento: a ganância por mais lucros de uma empresa Européia.

Decisão de fechar é arbitrária e argumentos da PKC são duvidosos

O Brasil, não vive uma grande crise econômica estrutural, o que acontece é que os efeitos da crise mundial afetam o país, na forma de desaceleração da economia, por isso o país cresce a números muito abaixo da previsão do governo, as empresas acirram as disputas pelos mercados e pelos clientes a nível internacional, e com isso, para se localizar melhor no mercado, as empresas lançam mão de processos de reestruturação, como elementos de retirada de direitos e demissões em massa.

A redução de 950 trabalhadores para 600, as demissões de 200 trabalhadores da PKC em dezembro de 2013 e agora o anúncio de seu fechamento responde a necessidade dos patrões de avançar em uma reestruturação, (decidido desde a Finlândia, matriz da empresa) que tenha como centro garantir suas altas taxas de lucros mesmo que isto custe os empregos e salários de centenas de trabalhadores.

Por isso o objetivo central da PKC no Brasil é reduzir direitos, salários e mão-de-obra para ampliar os lucros. Está sendo assim também em outras plantas com demissões e redução de direitos em Curitiba e em outras unidades do sul do país.

A direção da PKC anunciou o encerramento de suas atividades e o fechamento da unidade em Itajubá, alegando dificuldades financeiras e perda de mercado e clientes. Além disso, a unidade de Itajubá vinha produzindo de forma “normal” inclusive com negociações e assinatura de PLR – Participação nos Lucros e Resultados para os trabalhadores com assinatura inclusive da empresa.

A Direção da PKC argumenta problemas financeiros, mas não há por parte da empresa a tentativa de parcelar via financiamento com o BNDES ou pedido de recuperação judicial, iniciativas tradicionais de empresas que passam por dificuldades financeiras.

A direção da PKC também se utiliza de argumento de perda de mercado e clientes. Ocorre que a empresa a nível mundial é fornecedora das empresas Scania, Caterpillar, Iveco, Volvo entre outras, de modo a deter parte importante da carteira de clientes deste mercado, sendo assim a iniciativa da empresa de fechar sua portas é desproporcional ao tamanho de sua carteira de cliente no mercado, e a direção da empresa mantém mercado e clientes, por isso está em farta produção até dezembro.

Nossa conclusão é que os argumentos da empresa são contraditórios e duvidosos em comparação a realidade. Se realmente a direção da empresa enfrenta problemas financeiros, e pretende se manter na cidade a PKC teria vários iniciativas para pagar suas dívidas, pois o governo mantem várias linhas de créditos para recuperação das empresas. Além disso, o setor de auto-peças se beneficia com os pacotes de ajuda do governo as montadoras, e também com os baixos custo da produção em cidades como Itajubá.

A empresa mantinha seus clientes de forma ativa, inclusive com a produção massiva para estes clientes, por que então decidir fechar as portas de forma unilateral como uma ação desproporcional?

Custo de produção no Brasil é um dos menores do mundo.
Segundo o levantamento da ANFAVEA o custo de produção e distribuição do veículo no Brasil é muito mais baixo do que nos países desenvolvidos. Esse custo, que inclui matéria-prima, mão-de-obra, logística e publicidade, entre outros (que as montadoras chamam de Custo Brasil) é equivalente a 58% do valor final do carro.

A média mundial é bem maior, de 79%, e nos Estados Unidos esse custo sobe para uma faixa entre 88% e 91%. Os salários pagos na indústria brasileira está entre os menores do mundo. Ou seja, no Brasil se paga em média 5,41 dólares a hora, enquanto na Alemanha paga-se 25,80 a hora, nos EUA 23, 32 dólares a hora e na Argentina 8,68 dólares a hora.

Os impostos seguem na mesma proporção. No Brasil o imposto médio sobre o carro é de 32%, enquanto a média mundial é 16% e nos Estados Unidos varia de 6% a 9%. As montadoras argumentam que a margem é maior no Brasil por causa no custo do capital.

Esta situação é muito favorável para as empresas fabricantes de autopeças, que além de surfarem na onda de isenções de IPI para as montadoras, também se aproveitaram do baixo custo de produção no Brasil.
Para além disso, as empresas recebem ajuda e estímulos financeiros e fiscais para se instalarem nas cidades, combinando com o pagamento de salários mais baixos, que chegam a ser a metade dos salários que são pagos nos grandes centros.

Em Itajubá, a empresa PKC paga os menores salários das unidades e tem o menor custo de produção, enquanto os salários dos trabalhadores da Unidade de Curitiba ficam acima de R$1 mil reais e sua PLR este ano foi de R$ 17 mil reais, os salários dos trabalhadores da unidade de Itajubá giravam em torno de R$ 800 e a PLR em torno de R$ 2.200,00. Ou seja, a empresa PKC já se beneficiava de custos baixos de produção, com mão de obra qualificada e produtividade em alta.

Governo Dilma: Para as empresas, isenções fiscais e dinheiro publico, Para os trabalhadores demissões e ataques.
As empresas se utilizam de chantagem para se instalarem nas cidades e exigem isenções das mais diversas para continuar. As chantagens das empresas exigem que os sindicatos reduzam os direitos dos trabalhadores, como métodos de flexibilização, redução salarial e banco de horas. Com isso as prefeituras ficam reféns das empresas.

Sabemos também que redução de direitos e salários não garantem empresa, mesmo com estas ajudas as empresas não se furtam de demitir milhares de trabalhadores, como aconteceu em 2009 com sindicatos da CUT que assinaram acordos deste tipo e mesmo assim as empresas demitiram centenas.

Os benefícios concedidos as montadoras e a indústria em geral evidenciam o favorecimento do Governo Dilma aos patrões. Com os benéficos de isenção de IPI o governo deixou de arrecadar bilhões para os cofres públicos.

Por isso as remessas de lucros da empresa para suas matrizes no exterior só está crescendo, foram 35% no ano passado, comparadas a 2012. Foram US$ 3,5 bilhões em 2013 contra US$ 2,4 bilhões no ano anterior. Somente nos últimos quatro anos, mais de US$ 15,4 bilhões foram remetidos pelas montadoras ao exterior, segundo jornal Valor econômico. Esta situação confirma uma política voltada a salvar os lucros dos patrões enquanto os trabalhadores são abandonados com ataques inclusive do governo federal.

Nas empresas de autopeças não é diferente. Os patrões estão demitindo como forma de economizar com o pagamento de salários e benefícios aos trabalhadores sob a desculpa da crise. Os trabalhadores que ficaram nas fábricas sofrem com muita pressão e assédio para conseguirem tocar a produção, e o governo Dilma fecha os olhos e abre o cofre público para os patrões que demitem e fecham fábricas patrocinando com o dinheiro dos trabalhadores. Por isso é preciso que Dilma garanta a estabilidade no empregos para os trabalhadores, frente aos bilhões concedidos as industrias em todos este anos.

 Em Itajubá a prefeitura é reféns das empresas
O que ocorre é que enquanto a economia desacelera e o governo continua a defender os lucros das empresas com mais pacotes de isenção, nenhuma medida para proteger os trabalhadores é tomada. Mesmo com todo incentivo dado as empresas, como isenções de impostos municipais ou a diminuição deles e até de doação de terrenos públicos, a prefeitura de Itajubá e seus vereadores são reféns das ações das empresas.

Nos últimos seis meses as demissões nas fabricas da cidade só aumentaram, com objetivo de garantir seus lucros as custas das demissões dos trabalhadores, empresas europeias como a MAHLE demitiu mais de 500 trabalhadores, na DELPHI, em Paraisópolis, pode chegar a 250 demissões, a Helibrás que recebeu dinheiro em ajuda direta do governo federal também diminuiu funcionários, assim como a FANIA e em toda categoria metalúrgica de nossa região estima-se que as demissões ultrapassem 2 mil trabalhadores.

Contudo, até o momento, não há, por exemplo, intenção do governo federal e ou da prefeitura em discutir e implementar a convenção 158 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que determina estabilidade no emprego aos trabalhadores. Ao contrário, a prefeitura nada faz e trata as demissões como curso normal da economia.

Foi assim também como o fechamento da Microboard, empresa de fabricação de microcomputadores e tablets. A prefeitura de Itajubá é doadora de terreno para esta empresa. Apesar de obter incentivos fiscais, não tomou nenhuma iniciativa para impedir a demissão dos trabalhadores, na sua maioria mulheres.

O fato é que, na prática, o governo Dilma e a prefeitura de Itajubá, na figura do prefeito Rodrigo Rieira, comprovam que, a exemplo de governos anteriores, também optaram por governar com os banqueiros, empreiteiras, multinacionais, empresários da indústria. Já aos trabalhadores, o tratamento é o descaso as suas reivindicações e desrespeito aos direitos.

Fortalecer a luta para impedir o fechamento e as demissões
Os próximos momentos serão decisivos para os trabalhadores da PKC. A prefeitura já virou as costas e sequer aceita se reunir com o representante dos trabalhadores e o sindicato, mas o prefeito já se reuniu com a direção da empresa e aceitou suas desculpas de fechar a fábrica.

O Sindicato dos Metalúrgicos convoca audiência pública para discutir com a população o caso. Cabe a direção do sindicato construir a unidade de todos os trabalhadores da empresa e uma forte mobilização capaz de fazer o Governo Federal se posicionar e o prefeito Rodrigo Rieira impedir a sua saída por decreto.

Por isso o Sindicato dos Metalúrgicos iniciou uma campanha pela defesa dos empregos e pela permanência da empresa na cidade. Na segunda feira (11), os trabalhadores da fábrica, com o sindicato, fecharam a rodovia 459 exigindo a permanência da empresa.

Vamos juntos exigir que Dilma barre o fechamento da PKC, e faça um esforço proporcional ao feito pelo governo de ajudar as empresas com dinheiro público. Que o governo de Rodrigo Rieira intervenha a favor dos trabalhadores e proíba o fechamento da empresa, com a alternativa para que os trabalhadores possam gerenciar a empresa e administrá-la a favor dos trabalhadores de Itajubá e garantindo seus empregos.

Para isso, o Sindicato dos Metalúrgicos, fará uma forte campanha com atos e manifestações na cidade, a fim de promover a luta contra o fechamento da empresa.

Por Jeferson Mendonça, assessor de relações sindicais do Sindicato dos Metalúrgicos de Itajubá, Paraisópolis e Região. (Com a Corrente Sindical Unidade Classista)

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