Jornalistas de diversas empresas de comunicação de Belo Horizonte participaram na manhã desta quarta-feira, 28/5/14, do curso Safety, Security Awareness and First Aid, realizado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) com o objetivo de difundir normas e práticas de segurança para jornalistas que vão cobrir os protestos durante a Copa do Mundo.
A oficina, com duração de três horas, foi ministrada por um aconselhador de segurança, inglês, e um instrutor brasileiro do INSI – International News Safety Institute, organismo com sede na Inglaterra e que há dez anos dedica-se a treinamentos de segurança para profissionais de imprensa. Fizeram o curso repórteres e fotógrafos dos jornais Hoje em Dia, Estado de Minas, Metro, rádios Itatiaia e Alvorada FM, TV Alterosa, Assembleia Legislativa de Minas Gerais e freelancers.
O aconselhador de segurança, que trabalha em resgate de jornalistas em situação de perigo, em qualquer parte do mundo e por isso não tem nome nem imagem divulgados, falou sobre riscos e perigos da profissão de jornalista. “Existe uma ameaça potencial no exercício do jornalismo. Você tem de entender que o risco é real. Se você fala ou escreve histórias, pode desagradar alguém e estará em risco”, disse. A partir desse alerta, o aconselhador do INSI passou a dar instruções sobre como os jornalistas devem se portar nas coberturas que envolvam multidões e polícia.
Em resumo, concluiu, que duas coisas devem ser consideradas nessas coberturas: “Primeiro, nunca fique isolado. Você sozinho é um alvo. Segundo, você precisa entender que faz parte de uma comunidade internacional”. E exemplificou: “Quando Salvador foi ferido, recebeu os primeiros socorros de jornalistas da BBC de Londres”. Salvador Ilídio Andrade era repórter cinematográfico da Rede Band e morreu vítima de um foguete modificado, na cobertura de conflitos no Rio de Janeiro, em fevereiro deste ano.
Herculano Almeida Barreto Filho, repórter do jornal “O Dia”, do Rio de Janeiro, instrutor do INSI, também passou instruções para a plateia. Ele destacou a importância do planejamento antes de sair da redação para a cobertura de pautas de risco e da observação do local onde os fatos se desenrolam. Respondendo a pergunta do repórter Daniel Camargo, do jornal “Estado de Minas”, sobre qual era o termômetro para se medir o risco, Barreto Filho explicou a teoria do Código de Cores Cooper.
Segundo o estudioso de segurança Jeff Cooper, o estado de atenção diante do risco varia do branco ao vermelho, sendo que o branco refere-se ao estado de calma e o vermelho à adrenalina, quando se está pronto para enfrentar ou escapar do perigo. Este último estado, explicou Barreto Filho, é quando o jornalista tem de definir entre o furo e o risco. E somente o profissional, aplicando os conhecimentos aprendidos no workshop poderá decidir.
A repórter Edilene Lopes, da Rádio Itatiaia, agradeceu ao Sindicato pela iniciativa e elogiou os professores. “A oficina foi muito boa. Superou minhas expectativas. Normalmente tenho ressalvas a fazer a esse tipo de atividade, mas foi importante porque agregou conhecimentos que vamos empregar na rua”, disse.
A realização da oficina Safety, Security Awareness and First Aid teve o apoio do Sindicato das Empresas Proprietárias e Jornais e Revistas de Belo Horizonte e do Sindicato das Empresas de Rádio e TV de Minas Gerais (Sert-MG).
Recomendações de segurança para cobertura de protestos
O INSI reúne membros de grupos de comunicação e associações de jornalistas em todo mundo, entre eles a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que traduziu as orientações do INSI para jornalistas que atuam na cobertura de protestos. A lista pode (e deve) ser adaptada de acordo com as peculiaridades de cada veículo e jornalista, a adoção de uma ou outra medida é uma opção. É importante que cada redação discuta normas de segurança antes de enviar as equipes para a rua. A seguir, as recomendações.
1. Antes de sair a campo
- Certifique-se de que sua credencial está à mão e é válida. Alternativamente, esteja com sua identificação profissional (crachá da empresa ou similar).
- Pode ser útil alertar as autoridades de que sua organização de mídia planeja cobrir os protestos, se for apro
priado e se isso não representar perigo para você. Tenha à mão o contato (preferencialmente, o celular) da pessoa responsável na empresa/veículo; quanto mais graduado, melhor (editor, chefe de reportagem etc.).
- Leve equipamento de proteção. Podem ser: capacetes (capacete de ciclista é uma opção acessível), máscaras com purificador de ar, respiradores de fuga e/ou coletes à prova de balas com placas de proteção extra. Escolha de acordo com as armas usadas pela polícia local para controlar a multidão.
- No caso de gás lacrimogênio, use uma máscara com purificador ou um respirador de fuga (se disponíveis) para proteger seus olhos e pulmões. Se você planeja levar esse equipamento, certifique-se de que tem a versão/filtro apropriados para gases, não apenas para partículas.
- Se você não tem acesso a esses equipamentos, a melhor alternativa é máscara com purificadores e respiradores de meia-face ou descartáveis, que é mais barata.
- Se você não tem acesso a nenhuma das opções anteriores, use um pano seco sobre a boca para te
ntar proteger seus pulmões e saia de perto o quanto antes. Considere usar óculos de proteção. Mulheres: considerem não usar maquiagem, pois o gás adere a ela.
- Se você não tiver um pano seco ao alcance, puxe sua blusa para cobrir o nariz e a boca e assim proteger o fluxo de ar. O ar no lado de fora da blusa provavelmente estará contaminado pelo gás.
- Procure não usar lentes de contato, já que o gás lacrimogênio entra por baixo delas.
- Use calçados confortáveis, com os quais você possa correr.
- Use tecidos naturais, pois são menos inflamáveis que os sintéticos.
- Prepare uma mochila com suprimentos suficientes para um dia: capa de chuva leve, alimentos leves e água, baterias de reserva para equipamentos eletrônicos, equipamento de proteção.
- Não coloque bolsas ao redor do pescoço nem leve nada que não possa carregar com você.
- Use um porta-documentos amarrado ao corpo sob a roupa. Também pode ser uma tornozeleira que comporte dinheiro, celular extra, cartões extras e bateria. Mulheres: o sutiã pode ser uma alternativa.
- Leve um kit de primeiros-socorros e esteja apto a usá-lo.
- Carregue uma cópia de sua credencial ou identificação de profissional da imprensa e os números de tel
efone de seu editor e de seu advogado (ou advogado da empresa). Certifique-se de que seu editor saberá quem (família, amigos) e como contatar no caso de você ser preso ou ferido.
- Configure um número de emergência para discagem rápida em seu celular.
- Se possível, estude o mapa da área antes de ir a campo. Considere filmar o local previamente a partir de lugares
altos.
- Faça um exercício mental de “e se?” - e planeje o que você pode fazer em cada situação imaginada. Não saia a esmo, sem qualquer planejamento.
- Combine um ponto de encontro com sua equipe, caso vocês se percam, e um lugar seguro para onde ir caso
a situação fique muito perigosa.
2. Em campo
- Tente não ir sozinho. Se puder, leve alguém para vigiar a retaguarda enquanto você fotografa.
- Assim que chegar, procure por rotas de fuga e certifique-se de que saberá para onde ir se perder a orientação.
- Tente permanecer às margens da multidão e não fique entre policiais e manifestantes.
- Mova-se vagarosamente em meio as multidões e siga o fluxo, se possível.
- Mantenha uma postura firme e use as mãos para abrir caminho, como se estivesse nadando em meio às pess
oas.
- Multidões têm vida própria. Esteja sempre atento ao humor e à atitude geral.
- Avise seus editores se o humor começar a mudar e comece a pensar em um plano.
- Se planejar mudar de direção, verifique a situação de lá com pessoas que estejam vindo de onde você pretende ir.
- Equipes de TV devem carregar o mínimo de equipamentos possível. Ao identificar possibilidade de agressão, c
ertifique-se de que sua mochila é grande o suficiente para colocar o tripé e guarde-o. Esteja preparado para deixá-lo para trás se precisar fugir.
- Carregue sua mochila à sua frente, assim você pode vê-la o tempo todo.
3. Quando os ânimos se exaltam
- Evite cavalos. Eles mordem e, obviamente, dão coices.
- Evite ficar na linha de tiro de canhões de água, pois podem danificar seu equipamento. E muitas vezes têm corantes, para que as forças de segurança identifiquem os manifestantes depois.
- Fique contra o vento em situações de gás lacrimogênio e mantenha-se o mais abaixado que puder, para ficar abaixo da névoa do gás, que tende a subir. Assim que a área estiver limpa, ou você tiver mudado de lugar, procure ficar parado por um tempo com as pernas afastadas, os braços abertos e o rosto voltado para o vento até que os efeitos do gás passem. Isso permitirá que o vento sopre o gás das roupas e garante que você receba bastante ar fresco.
- Não use vinagre. Não funciona. Use água.
- Lave suas roupas o quanto antes ou o gás ficará nelas por muitos meses. Isso também vale para ca
pas de microfones e fones de ouvido.
- Se a polícia o prender, tente pedir para ligar para sua chefia. Tente falar com um oficial superior, pois isto terá mais impacto. Ligue para seu editor, cheque se a empresa disponibiliza serviço jurídico.
- Evite situações de violência, se você puder, e afaste-se para filmar, se necessário.
- Fique de olho nas movimentações da polícia. Veja qual é o calibre e o alcance das armas à distância para antever o próximo nível que o embate com os manifestantes atingirá.
- Cuidado com táticas como o "encurralamento" – a polícia direciona a multidão para um local restrito que não permite a dispersão. Cuidado para não ser pego no meio.
Observe as ruas do entorno. Os policiais geralmente vão se reunindo por ali; tente perceber para onde estão indo
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