"Vivemos em uma zona de terror. O Exército com grandes armas. Estão morrendo camponeses, brutalmente assassinados. Sabemos que aqui há pistoleiros colombianos e israelenses que estão infiltrados nos batalhões. Essa luta vamos continuar. Vai nos custar sangue, mas um dia vamos ver a luz”.
Disse-nos em entrevista o líder camponês Juan Ángel López Miranda em 09 de dezembro de 2010. Em 11 de novembro de 2014, o assassinaram. Já são mais de 130 camponeses em Bajo Aguán assassinados desde o golpe militar de 2009.
Juan Ángel López Miranda dirigia o maior assentamento campesino em Bajo Aguán, com mais de 1.500 camponeses e familiares. Acusava os setores do Estado de estar a serviço de três fazendeiros: Miguel Facussé, Reinaldo Canales e René Morales em Bajo Aguán.
Foi em 09 de dezembro de 2010. Chovia fortemente enquanto o entrevistávamos. Era como se o céu chorasse nesse dia, algo assim como um pressentimento do que viria, ali, no norte de Honduras, ao lado da costa do Mar do Caribe. Há cinco dias, em 11 de novembro de 2014, ele foi assassinado por dois pistoleiros quando saía de uma igreja.
- Os guardas de Miguel Facussé têm armas de guerra, que é proibido. Miguel Facussé é dono de 90.000 hectares. A lei tem um teto de 350 hectares. Estão morrendo camponeses, brutalmente assassinados. Sabemos que aqui há pistoleiros colombianos e israelenses que estão infiltrados nos batalhões. Estão sendo financiados pela cúpula capitalista, como Miguel Facussé.
Toda a região militarizada
Bajo Aguán era e é um caos popular. As massas campesinas têm vivido oprimidas e sem terra por demasiado tempo, despejadas mães que recém pariram, deixadas pela bota militar nas rodovias do Departamento de Colón, debaixo da chuva e das tormentas, vulneráveis a todas as enfermidades e animais nas plantações de Palma Africana.
A militarização em Bajo Aguán é um reflexo do resto do país, onde se cobra um imposto adicional para armar novos batalhões da Polícia-Militar. Na realidade, são Forças Especiais do Exército sob o comando estadunidense. Praticamente, está substituindo o corpo policial.
O descontentamento na Polícia Nacional é dramático e seus integrantes distribuem comunicados sem assinaturas, nos quais denunciam a militarização da sociedade hondurenha e o "mau trato” que dizem receber das autoridades das instituições e do presidente e governo hondurenhos.
Unidades do "Operativo Tarea Xatruch”, armados com todo o arsenal.
Centenas de milhares de camponeses sem terra
E essa militarização foi denunciada por Juan Ángel López Miranda quando o entrevistamos em 2010:
– E o governo, despejando as pessoas gente como aconteceu ontem no Assentamento Paso Aguán. Este país está comprado pelos narcopolíticos!” Vamos continuar com essa luta. Vai nos custar sangue, mas um dia vamos ver a luz”.
São milhares de camponeses sem terra e organizados em diferentes movimentos nessa rica região de Honduras, que ocuparam as terras pouco tempo depois do golpe de Estado de 2009, reclamando uma reforma agrária. Retaram, duplamente, ao Poder Fático em Honduras. Porém, devido à sua organização e unidade se fizeram respeitar.
O presidente que foi eleito durante o estado de sítio, em novembro de 2009, Porfirio Lobo, se viu obrigado de sentar com os representantes dos camponeses. Era urgente chegar a um acordo antes que se rebelassem os centenas de milhares de camponeses sem terra que vivem em uma incrível miséria no campo hondurenho. Juan Ángel era um dos negociadores dos camponeses no palácio presidencial.
Bajo Aguán foi e segue sendo militarizado por mais de mil militares, policiais e agentes da inteligência militar, assessorados por militares estadunidenses e colombianos. O "Operativo Tarea Xatruch” começou e semeava, como dizia Juan Galindo, pavor e horror, militarizando a vida cotidiana.
Os meios de comunicação ligados ao golpe militar de 2009 trataram por todos os meios de encontrar pretextos para criminalizarem a luta dos camponeses em Bajo Aguán por uma reforma agrária. Já são mais de 130 camponeses assassinados.
"Guerrilheiros” fantasmas só com facas
Os meios de comunicação ligados ao golpe de Estado militar acusavam os camponeses por estarem respaldados por grupos guerrilheiros da Nicarágua, Venezuela, Colômbia, Cuba, até o Hezbollah do Líbano estavam armando o campesinato em Aguán.
Os meios de comunicação hondurenhos, em sua grande maioria, transmitiam e escreviam sem questionar absolutamente nada. Nunca foi capturado ou sentenciado um só suposto guerrilheiro campesino. Mas o sangre campesino sim, tem sido derramado nos massacres e assassinatos seletivos durante estes últimos cinco anos. Quase 1 mil crianças em Bajo Aguán ficaram órfãs. (Com a Adital)
Nenhum comentário:
Postar um comentário