quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Jornalistas contam como é trabalhar com os candidatos nas eleições

 

O trabalho é exaustivo. Por trás de um candidato tem um jornalista ou uma equipe completa. Alguns chegam inclusive a coordenar campanhas, o que torna seu papel fundamental no processo eleitoral.

Everaldo Gouveia, ex-presidente do Sindicato foi repórter e foi editor do jornal Diário de São Paulo por 18 anos. Em 2005, migrou do jornalismo diário para a assessoria parlamentar. Trabalhou na liderança do Partido dos Trabalhadores (PT) e teve a oportunidade de participar de duas campanhas eleitorais para a Prefeitura de São Paulo, ambas do PT. Em 2008, para a atual ministra Marta Suplicy (quando foi derrotada por Gilberto Kassab) e na que elegeu, em 2012, o atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.

Para Everaldo, o papel dos jornalistas nas eleições é muito relevante: “Campanha é uma atividade intensa que acontece num curto período de tempo. É uma engrenagem que precisa estar bem ajustada para funcionar e pegar ritmo. Então, não pode haver falhas. Isso vale para o jornalista, que não pode passar uma informação errada para a imprensa e muito menos para o candidato que assessora ou para o comitê de campanha”, diz ele.

Discutir noticiário

Everaldo recorda que em 2008 ajudou a coordenação da campanha da ex-prefeita Marta Suplicy, atendendo a imprensa, organizando a demanda recebida das redações, e preparando e/ou revisando as respostas que seriam enviadas aos veículos de comunicação. “Já em 2012, na campanha de Fernando Haddad, assessorei diretamente o candidato, o que significa acompanhá-lo nas agendas, preparar as entrevistas, discutir um pouco o noticiário do dia, os assuntos com potencial de ganhar relevância nos meios de comunicação etc. Mas também assessorei o coordenador da campanha, que pela função que exerce também é procurado pela imprensa. Nas duas fases participei de várias reuniões em jornais e emissoras de TV discutindo regras de sabatinas e debates”, diz ele.

Nas campanhas, Everaldo fez contato com a mídia, não participando da elaboração de panfletos, jornais ou santinhos que podem ser realizados por jornalistas. “O panfleto é mais um produto de propaganda e normalmente é produzido por outra área. Eventualmente, você colabora de alguma forma com o conteúdo”, observa.

O ex-presidente do SJSP relembra como foi o seu relacionamento com a imprensa. “No meu caso foi bastante tranquilo, sem nenhum trauma. Pelo menos até hoje não recebi e nem ouvi nenhuma queixa de coleguinha sobre o meu trabalho. É claro que existe o stress habitual: de um lado a imprensa querendo entrevistar o candidato a todo custo e de outro você controlando esse acesso, funcionando como uma espécie de muro. É um papel às vezes chato, mas todo mundo compreende, pois é do jogo. Outro tipo de pressão é a cobrança por rapidez na resposta às demandas da imprensa, mas nada que não seja perfeitamente administrável”.

Na opinião de Everaldo, o que o jornalista que cobre campanha não tolera é não ser atendido pelo assessor, nem que seja para ouvir um não. “Sempre procurei dar atenção a todos, na medida do possível. Outra coisa que nunca se deve fazer é mentir, pois tira a credibilidade do assessor. O melhor é agir com correção e profissionalismo. Não é possível revelar tudo o que o jornalista que cobre campanha quer saber, mas mentir é um desrespeito profissional, tanto para ele, quanto para o próprio assessor”, opina.

 Trabalho 24 horas

José Donizete Lima está na equipe de jornalistas do candidato à presidente Eduardo Campos (PSB). Ele diz que é sua primeira campanha presidencial, mas fez outras duas para prefeito de Campinas (2008) e Catanduva (2012). Com passagens pelas TVs Globo, Cultura, Record, Gazeta e TV Brasil, em algumas delas chegou inclusive a apresentar o telejornal.
 
Desde que deixou a TV Gazeta, seu último emprego, estava vivendo como freelancer até que surgiu a oportunidade de fazer a campanha. “Como o nosso mercado está cada vez mais restrito, tenho trabalhado como frila, fazendo vídeos institucionais e mídia training. As campanhas políticas são sempre uma boa alternativa de trabalho. 

Mesmo que por poucos meses. Outras oportunidades apareceram quando estava empregado, mas eu recusei. Agora, sempre que chega essa época, reforço os contatos com agências, produtoras e coordenadores de programas políticos. Os convites  aparecem e aceito fazer quando tenho afinidades com o candidato ou partido. O cachê é decente e a produtora confiável. Foi assim que surgiu a oportunidade de fazer essa campanha”, diz ele.

Donizete já está sentindo a rotina de fazer uma eleição presidencial. “Temos que nos deslocar pelas principais regiões do país. A expectativa é de fazer muitas viagens. Em menos de um mês já fui duas vezes à Brasília e fiz uma temporada de 20 dias pelo estado de Pernambuco. Durante uma campanha é trabalho 24 horas, sete dias por semana”, relata ele.

Identidade

Marcelo Guedes é repórter cinematográfico e também conseguiu trabalhar em campanhas eleitorais.  Sua primeira experiência em TV foi no final dos anos 80, na TV Mix da TV Gazeta. Foi também videorrepórter do jornalismo da TV Cultura de 2000 a 2005 e na RedeTV de 2007 a 2010.

Ele relata que nos últimos anos tem transitado por inúmeras produtoras independentes de vídeo como cinegrafista e produtor, com destaque para a R2 Digital, onde foi diretor.

Com o trabalho em TV teve a chance de passar por experiências em campanhas políticas. A primeira foi em 1990, no Maranhão, na disputa para o governo do Estado. “Fui repórter e me lembro bem dos três meses de trabalho intenso da nossa equipe produzindo pelo árido sertão maranhense”. Também se recorda de ter trabalhado como produtor numa difícil campanha pela prefeitura de Santos, no litoral paulista e que seu  último trabalho eleitoral foi em 2012 na disputa para a prefeitura de Araras, no interior paulista, como cinegrafista e produtor.

“Em todos estes trabalhos tivemos a chance de sair vencedores e as histórias e lembranças desses momentos sempre são boas mas, não nego que o trabalho do jornalista envolvido numa campanha eleitoral está diretamente comprometido com as ações do candidato. Logo, é importante se identificar com as propostas do candidato que “é o único caminho seguro para que possamos desempenhar um trabalho nobre e justo”.

Observação: Essa matéria foi realizada antes do trágico acidente que vitimou  Eduardo Campos

(Com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo)

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